Última parte
A Inglaterra romana: 43 – 1065
Toda religião é, de alguma forma, válida. São verdadeiras
quando compreendidas metaforicamente. Mas quando elas empacam nas próprias
metáforas, quando essas metáforas são interpretadas como fatos, então surgem os
problemas.
Joseph Campbel
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Estátua do Imperador Trajano, Londres |
Se você já ouviu falar de povos bárbaros,
os Celtas eram uma das etnias que formavam esse grupo.
O nome Celta vem do grego “kéltios”, que
significa “bárbaro além das montanhas”. O pouco que sabemos sobre os Celtas, é
através dos relatos romanos, que por sua vez, sempre os colocam como um povo
hostil. Por isso o nome bárbaro (a origem do nome bárbaro é porque os gregos
diziam que a fonética dos povos do norte da Europa tinha o som semelhante a
bar-bar). Na realidade, os Celtas não eram um povo hostil, apenas defenderam seu
território quando atacados pelos romanos.
Os primeiros invasores que chegaram à
Inglaterra foram os Celtas no séc. VIII a.C. Eles dividiam-se em diversas tribos,
como a dos gaélicos e a dos bretões. Em 43 d.C., os exércitos romanos
derrotaram as tribos célticas e Roma dominou a área.
Os britânicos defenderam sua terra, mas
os romanos, militarmente superiores, conseguiram dominar a ilha. Ao estabelecer na Grã-Bretanha, os romanos
construíram fortes e muralhas a fim de proteger a província contra outros povos
guerreiros. Os romanos fundaram
Londinium a atual cidade de Londres. A Inglaterra prosperou sob o
domínio romano e Londres começou a progredir como cidade portuária. Durante
esse período, o Cristianismo chegou à ilha pela primeira vez.
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Ruínas romana em Londres, foto By: Z3 View |
A influência romana também foi muito forte na cultura
religiosa da Grã-Bretanha. Primeiro, a própria história de deuses Celtas foi
desaparecendo, transformando-os apenas em deuses romanos com nomes Celtas (uma
relação mais ou menos parecida com a da mitologia grega com a romana).
Os romanos também levaram para a ilha o Cristianismo que,
quando da retirada das forças romanas no século V,
já tinha força considerável na Grã-Bretanha. Depois, as próprias disputas
internas aumentaram a influência do Cristianismo, fazendo a religião Celta desaparecer
gradativamente e sem deixar muitos registros históricos, pois os druidas recusavam-se
a escrever sobre seus dogmas e rituais. E no próprio povo britânico, até mesmo
entre os nobres, era raríssima a prática da escrita.
Sem sobras de dúvidas os romanos foram instrumento
involuntário para chegada do Cristianismo nas terras dos Celtas.
Normalmente, os Celtas são ligados ao
Halloween e Wicca, o que era uma tradição entre eles, tratando-se de um povo
politeísta. Mas pouco se fala sobre sua conversão ao Cristianismo.
A conversão dos Celtas ao Cristianismo
aconteceu em meados do século V. Alguns estudiosos, afirmam que no século I,
havia seguidores do Cristianismo na Inglaterra (é provável, tratando-se dos
gálatas serem um povo celta). Os grandes expoentes da conversão dos Celtas ao Cristianismo
são os santos Patrick e Columba.
Algumas das
características fundamentais do Cristianismo Celta, é que eles não eram ligados
ao poderio do Papa – o que provocava um problema com Roma – e dessa forma, não
se colocavam debaixo das regras do Cristianismo Católico Romano. Combatido pela
Igreja de Roma – foi mesmo, por vezes, considerado herético – o Cristianismo Celta conhece numerosas evoluções que marcam
o conjunto do Cristianismo.
Os Celtas
também acreditavam cegamente na Trindade, porque na sua cultura, o número três
era o número que organizava todas as leis e regras de sua antiga religião. Por
isso não tiveram dificuldade em crer na Trindade.
Como a religião dos druidas era fortemente ligada à natureza, aqueles que se
converteram ao Cristianismo preservaram essa característica. Os cultos dos Celtas
eram realizados no meio das florestas e suas canções sempre exaltavam o Deus
que criou todas as coisas. Isso fazia com que os Celtas fossem cuidadosos com a
natureza.
Após a conversão dos Celtas ao
Cristianismo, a Cruz Celta tornou-se um emblema da Igreja Cristã Celta.
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Cruz Celta, New Forest, Hampeshire, Inglaterra, foto By: Z3 View |
A origem da Cruz Celta
não é clara, mas ela era conhecida por ser um símbolo do deus sol gaulês Taranis, comparado ao Júpiter dos romanos. Segundo Thomas Rausch, foi
originalmente um símbolo indo-europeu de fertilidade.
Este símbolo é uma derivação da Cruz Solar e aparece por toda a
Europa desde o terceiro milênio a.C. (Idade do Bronze), tendo sido utilizado,
sobretudo pelos povos Celtas (Celtiberos, Gauleses e Gaélicos), mas também
pelos povos nórdicos.
Apesar de muitas vezes ser confundido com um símbolo da
Cristandade, a Cruz Celta é muito anterior, com algumas representações datadas
de 5.000 a.C.
Com a conversão da Inglaterra ao Cristianismo, o símbolo foi rapidamente
absorvido pela nova ordem social e transformado numa cruz cristã.
Cada
povo tem sua espiritualidade, cada época também. Como entidades vivas que são as
religiões evoluem e se transformam ao longo do tempo; adéquam
às mudanças sócio-culturais, absorvem elementos trazidos pelo contato (pacífico
ou belicoso) com outras culturas, desenvolvem-se continuamente num processo
orgânico e irresistível.
A
espiritualidade Celta não é exceção: desde suas origens remotas até nossos
dias, ela mantém-se viva e vigorosa, manifestando-se de diversas formas através
das eras: no
estudo do druidismo histórico,
no “reconstrucionismo” moderno, no folclore das terras outrora habitadas por
tribos Celtas, nos elementos absorvidos pelo Cristianismo que por ali se desenvolveu, nas
modernas re-interpretações,
na música e
na literatura produzida
em idiomas Celtas,
nos movimentos
nacionalistas das
nações Celtas.
Evidentemente,
cada uma dessas múltiplas manifestações é incapaz de apresentar ou representar
a Alma Celta por inteiro: quando muito, retratam uma de suas várias facetas.
Até por isso, aos desejosos de compreender a herança Celta e desfrutar de sua
riqueza fica a certeza de que jamais podemos supervalorizar qualquer uma dessas
manifestações em detrimento das demais, sob pena de terem uma visão muito
simplista – para não dizer distorcida – do que é, de fato, a Alma Celta.
Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3view@gmail.com