O mito do êxodo hebreu no Egito é provavelmente um dos temas mais
complicados a ser abordado pela a Arqueologia, isto porque fala justamente de
crença religiosa de muitas pessoas da atualidade, e este assunto deixa os
ânimos extremamente sensíveis. Infelizmente, apesar de abortar crenças
modernas, ele tem sido tratado de forma tão pouco rigorosa que acaba sendo
alvo de documentários e matérias esdrúxulas que criam um cenário bizarro.
O que torna a narrativa do êxodo
hebreu tão polêmica é que, apesar de toda a manifestação em volta desta
história, em termos de cultura material ou outros escritos que não sejam
bíblicos não existe nada que fale da ocorrência de um êxodo da magnitude
demonstrada no Antigo Testamento que tenha ocorrido no Egito, ou mesmo que se
tenha existido uma comunidade israelita na época em que apontam a ocorrência do
êxodo.
Embora a afirmação de que os egípcios jamais narravam suas derrotas seja
válida em termos teóricos, na prática, a Arqueologia trabalha não só com
documentos escritos, mas também com a cultura material, artefatos. Não
há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos
descritos no êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó
egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos
escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para
combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, então
inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heroicos que
recebiam ensinamentos diretamente de Deus. A prova de que esses textos são
lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o
texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo
deserto não existiam no século XIII a.C., quando o êxodo teria ocorrido. Esses
locais só viriam a existir 500 anos depois.
Mosteiro de Santa Catarina e ao fundo Monte Sinais |
Também
não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez
Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, também é tardia. Por volta de 327
d.C, Helena mãe do imperador romano Constantino, construiu uma igrejinha na
Península do Sinai. Em 527 d.C., Justino edificou o Mosteiro de Santa Catarina.
Embora em Gálatas capítulo 4 e versículo 25, o Monte
Sinai se chama Monte Horebe, em Êxodo capítulo 3 e versículo 12, a Montanha
onde Moisés esteve pastoreando, quando vivia com o sogro Jetro, ficasse em
Midiã, na Arábia Saudita: para facilitar o turismo religioso, o inóspito local
onde mitologicamente YHWH falou com Moisés através da Sarça ardente, foi transferido
para o Monte Sinai, que fica no Egito, na Península do Sinai, cerca de 250
quilômetros do Monte Horebe.
Muitas pessoas acreditam em crenças mitológicas, eu fico com os fatos da arqueologia e dos relatos históricos.
Sou Deísta.