O arqueólogo Vere Gordon Childe,
influenciou a nossa geração pela teoria
da Revolução Neolítica, que explicava que a civilização, como a
conhecemos, havia sido consequência da agricultura. De bandos de nômades
havíamos passado a uma vida mais sedentária, reunida à volta de vilarejos e
cidades, cultivando trigo, cevada e domesticando animais. Foi só na década
de 1990, com as primeiras descobertas arqueológicas em Göbekli
Tepe, na Turquia, que evidências de outra possibilidade começaram a
surgir. E vieram tão numerosas e de tantas formas diferentes, que a
necessidade de revermos de maneira drástica o que imaginávamos ser o
desenvolvimento dos seres humanos no Neolítico se fez necessário.
Com as
descobertas de Göbekli Tepe: a organização religiosa dos seres humanos
talvez não tenha vindo como consequência da Revolução Neolítica, mas ao
contrário: a necessidade de uma religião organizada pode ter dado origem à
agricultura.
É uma
reviravolta inesperada e fascinante.
Até
evidência em contrário, o aparecimento da religião organizada entre os homens
aconteceu na Turquia, em Göbekli Tepe, mais ou menos há 12.000 anos.
As fundações desse templo religioso no topo de uma montanha, a 15 km de
Şanlıurfa, no Sudeste da Turquia, são incontestáveis. Haveria outros
templos mais antigos? Não sabemos. Por ora, a civilização começou
aí. Göbekli Tepe é um templo extraordinário.
Göbekli
Tepe é um complexo arqueológico muito complexo. Suas pedras gigantescas
são cortadas com precisão e apresentam baixos-relevos de animais variados:
cobras, raposas, escorpiões, javalis e bandos de gazelas.
Como
então Göbekli Tepe se encaixa na chamada Revolução do Neolítico,
proposta por Childe? Não se encaixa. Aquela época importante
quando a agricultura tomou conta da nossa vida no planeta, aqueles milênios em
que as culturas nômades dedicadas à caça e pesca passou a plantar e cultivar os
animais, não parece se refletir no primeiro grande templo da humanidade.
E isso é só uma das partes desses quebra-cabeças.
Mas o que
foi achado em Göbekli Tepe para nos fazer questionar o que parecia
certo e lógico? Localizado na maior colina em toda área, por quilômetros
e quilômetros, esse templo consiste de 20 câmaras no subsolo que têm um grande
número de pedras de calcário em forma de T. Muitas dessas pedras e
pilares foram decoradas com o desenho de animais do campo, em relevo,
cinzelados. As pilastras estão organizadas em círculos de pedras, —
quatro foram escavados até agora. Cada círculo tem não mais do que 30 m
de diâmetro. As pedras que os formam são de aproximadamente 6 metros de
altura, pesando entre 12 a 18 toneladas.
No
entanto, não há vestígios de habitação permanente de seres humanos no
local. Nem mesmo rastros deixados por acampamentos de longa duração, já
que nessa época não existiam ainda vilarejos, nem cidades, nem aglomerados
humanos de maior complexidade. Os seres humanos eram nômades,
sobrevivendo da caça e pesca e de colheita de frutos da natureza. Então
como construir um monumento desse porte, se era preciso um grande número de
pessoas, organizadas, que exercessem diferentes tarefas?
O que
causaria esse grande esforço para se construir um templo, num lugar de tão
difícil acesso? O que havia levado esses povos a construir algo tão
ambicioso? E mais estranho ainda: a enterrá-lo propositadamente
depois de algum tempo e abrir outro templo circular um pouco mais adiante,
e ao fim de um determinado tempo, enterrá-lo e assim por diante? São
respostas que os especialistas ainda não têm.
Fonte
The National
Geographic Magazine.
Peregrinacultural's
Weblog por Ana Dias.