A doutrina
da trindade foi uma ideia que surgiu ante a necessidade de explicar uma suposta
revelação “tri-pessoal” de Deus nas Escrituras. O fato é que em tempos mais
primitivos do cristianismo, a ideia de ser Deus uma “pluralidade de pessoas”
era algo definitivamente fora de cogitação, haja vista que os primeiros
seguidores de Jesus eram judeus monoteístas. Na verdade, quaisquer ideias que
sugerissem afirmando que Deus é além de uma só 'pessoa', era motivo
de grande escândalo. A doutrina da trindade é produto de uma teologia posterior
aos primeiros cristãos, que a final de contas, foi séculos de discussões e
disputas teológicas para que uma formulação oficial do dogma fosse concebida. E
ainda que concebida formalmente, esta nunca deixou de ser contestada por todos
quantos se dispuseram a defender a unidade absoluta de Deus tal como exarada
nas Escrituras.
A doutrina
da trindade é uma conjectura humana relativa a Deus; de modo que, a inexorável
limitação da mente humana em conhecer Deus em absoluto, tem sido a base para o
argumento de que da mesma forma, existe um limite na mente humana para entender
a doutrina da trindade em absoluto. É verdade que a mente humana não se presta
perfeitamente a apreender todo o conhecimento sobre Deus. Ademais, conhecer é
limitar, e Deus não tem limites. Não obstante, do mesmo modo em que existe um
campo próprio à mente humana para conhecer Deus, evidentemente o dogma da
trindade deve admitir o mesmo. Ora, se a ideia de “tri unidade” fosse
totalmente misteriosa, logo não haveria espaço para especulações.
E se
realmente estas especulações existem, logo existe também um espaço cognoscível
que nos permite verificar a coerência do dogma em questão. Noutras palavras, se
a alegada “tri-pessoalidade” de Deus possui algum nível relativo que permite a
postulação de argumentos favoráveis; é neste nível que fundamentaremos nossa
análise. Dizemos isso em virtude do argumento trinitário que assevera que todo
argumento divergente é inválido, pois a trindade é um mistério absoluto. O
interessante é que este nunca é o caso quando retóricas favoráveis ao dogma são
apresentadas. Mas o julgamento arbitrário dos trinitários sobre nossa
argumentação não terá nenhuma relevância, quando fica demonstrado que dentro
dos limites de compreensão do dogma, nenhuma coerência é notada. Tornar-se-á
evidente que o dogma da trindade, na verdade, não é um mistério absoluto; mas
se trata de um paradoxo que tem sido camuflado de mistério absoluto. Notaremos
que a ideia trinitária é antítese da verdade sobre Deus, e que ainda, nenhuma
credibilidade deve ser conferida a este dogma.
A noção da Trindade, colhida em antigas religiões que era a expressão
de um símbolo, veio obscurecer e desnaturar essa alta ideia de Deus.
A inteligência humana podia elevar-se a essa concepção do Ser eterno,
que abrange o Universo e dá a vida a todas as criaturas: não pode a si mesma explicar como três pessoas se unem para constituir
um só Deus.
Essa concepção trinitária, tão obscura, tão incompreensível, oferece, entretanto, grande vantagem às
pretensões da Igreja.
Permitia-lhe fazer de Jesus Cristo um Deus. Conferia ao poderoso
Espírito, a que ela chama seu fundador, um prestígio, uma autoridade, cujo
esplendor sobre ela recaía e assegurava o seu poder.
Nisso está o segredo da sua adoção pelo
Concílio de Nicéia (325 d.C.) e de Constantinopla (381 d.C.).
Sou Deísta
Fonte:
Quando
Jesus se tornou Deus, Richard E. Rubenstein, Ed. Fisus, RJ 2001.
Jesus e
Javé, Harold Bloom, Ed. Objetiva, RJ 2005.
A religião
de Jesus, o judeu, Geza Vermes, Ed. Imago, RJ 1995.
Deus uma
biografia, Jack Miles, Ed. Schwarcz, SP 1995.
Artigo: A
mentira que fez de Deus um mistério, Jonas Silva e Josué de Oliveira.
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