Porto de Itaguaçu, Aparecida início do século XX |
As
lendas sobre a “Serra das Esmeraldas” povoou o imaginário dos colonizadores
desde o primeiro momento.
Em
1674, partiu Fernão Dias, o mais famoso Bandeirante, em busca de tal serra.
Após
a saga de Fernão Dias, na frustrada “Caça as Esmeraldas”, multiplica-se o
número de Bandeiras. Logo a seguir, vários Bandeirantes paulistas descobrem
novas jazidas de ouro em Minas do Ouro (Minas Gerais), Transformando o Brasil
no maior centro mundial de produção de ouro do século XVIII.
Com
o fim da “Caça as Esmeraldas” (1713) dão lugar, então, ao importante “Ciclo do
Ouro”.
Naquela
época em que o Brasil era colônia de Portugal, não se dividia ele em Províncias
ou Estado como hoje. O Brasil, então, era dividido em Capitanias, dirigido cada
qual por um Governador nomeado pela Coroa de Portugal.
A
produção das minas crescia, ao passo que os tributos enviados à Corte
permaneciam estagnados. Em Portugal cobrava-se uma explicação; esta residia no
contrabando, que enorme prejuízo causava à fazenda real.
No
dia 4 de setembro de 1717, num ambiente de revolta pelo desvio do ouro, Dom
Pedro de Almeida, Conde de Assumar, foi indicado pela Coroa de Portugal como
terceiro Governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Competia ao
governador recém-empossado restabelecer a ordem, por fim ao contrabando de ouro
e a moralização do clero que ali vivia dissolutamente, praticando desde delitos
e desrespeito ao celibato, como também se envolvia no trafico do ouro para o
Vaticano.
Ciente
da gravidade da situação em Minas, o Conde de Assumar decide intervir
pessoalmente. No dia 26 de setembro, mandou um emissário a Minas do Ouro, para
avisar a todos os administradores de sua próxima visita. No dia seguinte, saiu
de São Paulo e rumou em direção ao Vale do Paraíba parando primeiro em Mogi das
Cruzes, depois em Jacareí, Caçapava, Taubaté e Pindamonhangaba, chegando à Vila
de Santo Antônio de Guaratinguetá no dia 17 de outubro e lá permaneceu até o
dia 30, esperando por sua bagagem que havia deixado
em Parati para ser enviada a Guaratinguetá em tropa de animais, aonde só chegou
no dia 28.
Por sua privilegiada localização, a
Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, situada na passagem para Minas Gerais,
funcionava como entreposto, o que gerou o estabelecimento de uma elite fidalga
na região.
Na véspera da chegada do Governador a Guaratinguetá, a Câmara
Municipal contratou diversos pescadores para trazerem uma boa quantidade de
peixes, que seriam preparados para o banquete, que foi elaborado com todo o
requinte, objetivando agradar o ilustre Governador e sua comitiva. Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o
vigário destacava-se nas cidades como autoridade mais importante.
Em
Guaratinguetá, na ocasião, era vigário, o jovem padre José Alves Vilela. Em 7
de setembro de 1514, através da Bula Dum
Fidei Constantiam, o papa Leão X concedeu a D. Manuel I e a seus sucessores
o padroado de todas as igrejas fundadas e a fundar no ultramar. Ou seja, a
igreja delegava ao monarca de Portugal a organização da igreja católica em seus
domínios. O Rei mandava construir igrejas, nomeava os bispos, sendo estes
aprovados pelo papa. Portanto, a nomeação dos bispos dependia inteiramente da
indicação feita pelo Rei.
O
padre Vilela desejava ser bispo. Percebeu na passagem do Conde de Assumar por
sua paróquia, a grande oportunidade, em conquistar a simpatia do Governador, e quem
sabe, ser apresentado como candidato ao bispado.
A
par das homenagens cívicas ao Governador promovidas pela Câmara, o padre
Vilela, como autoridade eclesiástica, programou festas religiosas de grande
pompa para impressionar o homenageado.
Desde sempre o clero gostou de se valer de seu ritualismo litúrgico para
engodar as autoridades civis com o objetivo de se manter prestigiado. O sonho
do padre Vilela era ser bispo, e ele tinha que conquistar o Governador para
alcançar esta posição. Tinha que arquitetar um plano infalível. Mas não tinha
muito tempo.
Padre
Vilela, esperava encontrar alguma coisa notável. Vilela conhecia e se
relacionava bem com um dos pescadores que fora contratado para a pesca. Felipe
Pedroso era seu nome. Em segredo, Vilela contando com a discrição e as
espertezas de Felipe Pedroso arquitetaram um plano. Pronto! Estava montado o
palco para o grande espetáculo.
O
sol ainda não despontará no morro do Tabuleiro quando os pescadores lançaram a
rede na curva do rio. Sabiam os pescadores que os peixes permanecem nas águas calmas
e não é possível pesca na turbulência da curva do rio. Mas, ingênuos, e
submissos, obedeceram. Na convicção de nada apanhar, surpresos, porém, ficaram
quando Felipe Pedroso retira das águas uma imagem, entalhada em terracota, nos
moldes de Murilo, que o clero se utiliza como símbolo da “Imaculada Conceição”
de Maria. Imediatamente Felipe Pedroso coloca a imagem dentro do embornal e
prossegue com a pesca. Obtida a quantidade de pescado exigida, foram entregar o
pescado. Felipe Pedroso e seus colegas pescadores Domingos Martins Garcia e
João Alves, jubilosos na sua crença ingênua, mostraram ao padre, misturado na
comitiva do Governador, a imagem. Comovido o vigário pelo sucesso do seu
empreendimento, em armar o cenário da peca “milagrosa”, despejava suas
expressões religiosas e deslambidas acentuando o “fator milagroso” daquele
achado.
Todo
o povo da região, estava presente na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá,
para receber o Governador e, ludibriados em suas crenças, exultavam com o
“milagre” sucedido.
Para
dar mais credibilidade ao seu estratagema religioso, o vigário entrega a imagem
a Felipe Pedroso, residente no sopé do morro dos Coqueiros. Partindo de
Guaratinguetá Assumar segue viagem, os fiéis, em procissão, acompanha o
felizardo pescador, que, com ar de piedade, colocou, sob a emoção dos
circunstantes, a imagem aparecida entre os “santos” do seu tosco oratório.
Inglórios
os esforços do vigário Vilela junto ao Governador! Tão atarefado de problemas
em sua curta estadia no Brasil à frente da Capitania de São Paulo e Minas do
Ouro, não teve sequer lembranças de sugerir ao Rei o nome do padre José Alves
Vilela pároco da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá como candidato a bispo
de alguma diocese do reino. Sem perder
as esperanças o padre Vilela decidiu incentivar a devoção da imagem aparecida,
promovendo atos religiosos. Quem sabe se seu nome assim ligado a imagem aparecida
“milagrosamente”, o encheria de fama e repercutiria nos ouvidos do religioso
Rei Dom João V, que ouvia missas todos os dias.
Bem,
daqui pra frente vocês já sabem a história!
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