domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Dualismo na Literatura Persa de Anjos & Demônios

     
Anjos & Demônios


     Deus e o Diabo, anjos e demônios, céu e inferno são sem dúvidas seres que atraem e mexem muito com o imaginário de muitas pessoas. São tantos mitos que envolvem o tema que com certeza dá margem para a criação de mais e mais história sobre esses seres que supostamente existem desde o principio de tudo.
     Ao falarmos sobre o século XXI, muitos, logo aponto essa como a era da tecnologia, da razão e da ampla circulação de conhecimento. Sob tal quadro, fica difícil imaginar que a figura mítica do demônio tenha espaço na explicação do mundo ou no próprio imaginário das pessoas. Entretanto, uma recente pesquisa demonstrou que o número de exorcistas, clérigos e pastores responsáveis pela expulsão de demônios, vêm crescendo de forma impressionante.
     Para muitos especialistas, o desenvolvimento da figura diabólica é fruto das várias dualidades que permeiam o cotidiano do homem. O belo e o feio, a sorte e o azar, o certo e o errado, a vida e a morte compõem jogos em que um lado assume significação positiva e o outro, necessariamente, uma posição completamente negativa. Dessa forma, não se enganem aqueles que acreditam que o universo demoníaco seja um traço singular às três religiões judaísmo, cristianismo e islamismo.
     No século VI a.C., o profeta persa Zoroastro realizou a descrição de um ser chamado Arimã. Segundo as suas palavras, Arimã era o “príncipe das trevas” e travava uma eterna luta contra Mazda, o “príncipe da luz”. Segundo historiadores, esse valor da religiosidade persa acabou sendo incorporado pelos hebreus durante o famoso Cativeiro da Babilônia. Naquele instante, a interação com a cultura estrangeira deu origem ao “satan”, termo que em sua tradução literal significa “acusador” ou “adversário”.
     Em um primeiro momento, o demônio hebraico não assume a postura estritamente aterrorizante que reconhecemos no cristianismo. Em várias passagens do Antigo Testamento, ele surge como uma espécie de colaborador que recebe a autoridade divina para punir ou testar os fiéis seguidores de YHWH. O sofrimento de Jó, que perdeu todas as suas terras e ficou adoentado, exemplifica esse tipo de postura que o demônio assume inicialmente no texto bíblico.
     Chegando aos textos do Novo Testamento, autores como João e Paulo dedicam linhas e mais linhas em terríveis batalhas em que o Diabo trava uma intensa guerra contra Deus. Nesse instante, de criaturas efêmeras e indefinidas, os demônios passam a fazer parte de uma legião de seres espirituais malignos chefiados por um líder supremo. Em uma dessas batalhas, podemos destacar uma descrição em que Lúcifer e um terço dos anjos são expulsos dos céus.

     No início do cristianismo, vários cristãos acreditavam que o demônio assumia várias feições. Somente no século IV, um concílio na cidade de Toledo descreveu minuciosamente o Diabo como um ser composto por chifres, pele preta ou avermelhada, com rabo e portador de um tridente. A partir de então, os relatos sobre experiências demoníacas ganhavam força em uma nova leva de narrativas.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Arte Rupestre na Serra da Capivara, Paui

Arte rupestre: significados e mistérios

Na Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, à primeira vista uma pintura rupestre pode dizer muito ou nada. É que não sabemos ao certo os sentimentos e experiências contadas através dessa arte pelos primeiros artistas plásticos da humanidade. Gravadas em tetos e paredões rochosos, as pinturas rupestres são o Diário das Cavernas do homem pré-histórico. Assim, primitivo é quem chama a Arte Rupestre apenas de pintura antiga. A Arte Rupestre vale como um tesouro de expressões e representa a conexão semiótica de símbolos gráficos associados a sentimentos. Também registra momentos, narra períodos culturais, testemunha a perplexidade diante do inexplicável e demarca territórios. Desafiando a imaginação, nem tudo o que as pinturas rupestres dizem têm tradução: a maioria permanecerá como enigma do passado.
O que é uma pintura rupestre?
A pintura rupestre é a mais antiga e coletiva expressão artística da humanidade. Esta técnica espalhou-se quase que simultaneamente pelo planeta há mais de 40 mil anos, em data anterior à invenção da escrita ou do alfabeto. Assim, antes de escrever, o homem pintou e fez da pintura seu canal de expressão e comunicação. Ao utilizar signos associados a emoções e significados, deu pauta para a Semiótica, a ciência dos signos. Por sua posição na sequencia cronológica anterior à escrita, a pintura rupestre é qualificada como Arte Pré-História. Nem por isso é menos importante ou “primitiva”. Ao contrário de uma tela tradicional, os artistas rupestres usaram a superfície das rochas como base para a sua pintura, transformando o interior das cavernas e paredões nas primeiras galerias de arte da humanidade.
Pinturas rupestres: ocorrências em todo o Piauí.
Maria Conceição Lage, o primeiro Doutorado em Arqueologia conquistado por um piauiense, informa que no Estado já são conhecidos mais de 2.500 sítios arqueológicos. E são muito mais a catalogar e a descobrir. “O Piauí é um grande sítio arqueológico”, afirma. As ocorrências de pinturas rupestres se espalham pelos sertões e chapadas. Pinturas rupestres são ocorrências presentes desde a Chapada das Mangabeiras, no extremo Sul, ao município de Cajueiro da Praia, na ponta Norte. Pesquisadores justificam esse grandioso acervo pelo Estado ter sido, desde há milhares de anos, uma rota de passagem dos povos caçadores e coletores. Também contribuem as condições estáveis do clima seco e quente, favoráveis para a conservação natural das pinturas.
As tintas e cores da arte rupestre
As tintas naturais fabricadas pelos artistas rupestres eram obtidas e extraídas do próprio ambiente. A Hematita, um mineral abundante no Estado, com alta concentração do elemento Ferro, fornece um pigmento inorgânico de cor avermelhada. Do mineral Goetita, quando moído, se obtêm um pó marrom escuro que dá um pigmento de cor ocre muito comum nas pinturas. O Caulin, pigmento originário de uma argila branca, (na China há séculos é usado na produção de porcelana) quando misturado com a Hematita, adquire tom cinza. O carvão era o material fornecedor do único pigmento (preto) de orígem orgânica. Os materiais usados para aglutinar os pigmentos e produzir tinta à prova de escorrimento ou gotejamento, eram sangue, látex vegetal (seivas em geral), clara e gema de ovos.


O que é sítio arqueológico?
De Norte a Sul do Piauí são cerca de 900 Km em linha reta. De Leste a Oeste, 618 Km. Dentro deste perímetro são 251.529,186km² de área total, com milhares de sítios arqueológicos dentro. Os que já foram catalogados, visitados por arqueólogos e pesquisadores, ultrapassam 2 mil. Mas como se reconhece um sítio arqueológico. “Um sítio arqueológico é um local no qual os homens que viveram antes do início de nossa civilização deixaram algum vestígio de suas atividades: uma ferramenta de pedra lascada, uma fogueira na qual assaram sua comida, uma pintura, uma sepultura, a simples marca de seus passos” (FUMDAHM). Os sítios arqueológicos são diferentes pontos de encontros e de atividades que produzem vestígios e deixam marcas dos povos ocupantes. O que estiver mais raso é recente. Assim, quanto mais distante no tempo, mais fica coberto ou soterrado pelos sedimentos do tempo.
Como se calcula a idade de uma pintura rupestre?
Datação é o nome genérico que se dá aos procedimentos e técnicas científicas para medir a idade de materiais naturais (uma rocha), um artefato humano pré-histórico (machadinha), um antepassado (crânio) pintura rupestre e muito mais. 
Os métodos de datação utilizam várias referências. Uma delas é do Carbono-14, uma variedade radioativa cuja contagem da radiação perdida permite recuar no tempo até o limite preciso de aproximadamente 50 mil anos. A partir disso, outras opções como Termoluminescência, que mede o tempo transcorrido desde a última vez em que uma amostra sofreu aquecimento, é melhor indicada. Técnicas mais recentes, como a ressonância paramagnética nuclear (EPR), permite, com precisão de 10%, a datação de objetos entre 1000 a 1 milhão de anos.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

Niède Guidon: povoamento do continente americano

Niède Guidon

Formada em História Natural pela USP, trabalhou no Museu Paulista, quando tomou conhecimento do sítio arqueológico de São Raimundo Nonato no Piauí, no ano de 1963.
Especializou-se em arqueologia pré-histórica, pela Sorbonne, e especialização pela Universidade de Paris I.
Desde 1973 integra a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, concentrando no Piauí seus trabalhos, que culminaram na criação, ali, do Parque Nacional Serra da Capivara. Atualmente é Diretora Presidente da Fundação Museu do Homem Americano.
Niède Guidon

Os achados arqueológicos de Guidon levam a crer que o povoamento do continente americano se deu muito antes do que se acredita de ordinário. Enquanto a teoria mais comumente aceita do povoamento das Américas postula que os primeiros humanos chegaram no continente há 15.000 anos, alguns dos sítios arqueológicos de Guidon contém artefatos que datam de 45.000 anos atrás. O problema de sua hipotése é que o que é tido por Guidon e sua equipe como sendo "artefatos" é tido por outros como sendo "geofatos" - os primeiros sendo produtos do trabalho humano e os últimos sendo produtos da ação de forças naturais. Antropólogos estadunidenses - entre os quais estão os mais ferrenhos críticos das teorias de Guidon - se encontram em ambos os lados da questão: alguns aceitam as evidências arqueológicas sem contestá-las; outros pensam que elas não são sólidas o suficiente para derrubar as antigas hipotéses. Enquanto isso, os achados se acumulam.