domingo, 30 de outubro de 2016

VATICANO




Entender Roma é perceber que ela é uma cidade repleta de segredos, com mais de três milénios de mistérios, e não há nenhuma parte de Roma que encerre mais segredos do que o Vaticano. O próprio nome “Vaticano” tem uma origem surpreendente: há mais de 28 séculos, antes mesmo da lendária fundação de Roma por Rómulo e Remo, vivia naquele local um povo chamado Etrusco. Tal como os hebreus e os romanos, os etruscos não enterravam os seus mortos dentro dos muros das cidades. Por este motivo, construíram um cemitério enorme numa encosta de uma colina local que, mais tarde, se viria a edificar a cidade de Roma. O nome da deusa etrusca pagã que protegia a necrópole, ou cidade dos mortos, era Vatika.
Mais tarde, nesse local foi construído o circo de Nero, o imperador louco. Foi neste circo, segundo a tradição da igreja, que São Pedro foi executado, crucificado de cabeça para baixo, e enterrado numa área próxima. Este local tornou-se o lugar de visitação de um número tão grande de peregrinos que o imperador Constantino, ao transformar seu império parcialmente ao cristianismo, fundou um santuário na zona que os romanos continuaram a chamar de colina Vaticana. Um século depois de Constantino, os papas começaram também a erguer neste lugar o palácio papal. Coincidências ou um lugar de atração negativa?
O que significa “Vaticano” nos dias de hoje? Pode referir-se à Basílica de São Pedro; ao Palácio Apostólico dos Papas, com mais de 14 mil aposentos; ao complexo dos Museus Vaticanos com mais de dois mil salas; à sede da hierarquia político-religiosa de cerca de um quinto da população humana; ao menor país do mundo, a Cidade do Vaticano. É de fato estranho se pensarmos que o menor país do planeta, com uma área aproximada de um oitavo do Central Park de Nova York, abriga a maior e mais valiosa igreja do mundo, o maior e mais sumptuoso palácio do planeta e um dos maiores museus da Terra.
Sou Deísta

Fontes:
-       Roman Catholicism, Loraine Boettner,PRP, Co., Rock Port,1985.
-       Os Arquivos Secretos do Vaticano, Sérgio P. Couto, Ed. Gutemberg, S.P., 2013.
-       Dark Mysteries of the Vatican, H. Paul Jeffers, US Publisher, 2009.
Vaticano, Joaquim Nogueira, Ed. Horizonte, Lisboa, 2012.

sábado, 29 de outubro de 2016

Os Evangelhos Canônicos e os Evangelhos Rejeitados



O cristianismo que temos, não é uma obra natural que fluiu, normalmente, conforme os fatos se desenrolaram, mas uma forma literária e formal citada pela Igreja de Roma de acordo com as próprias conveniências e as do governo imperial.
No primeiro século do cristianismo, as comunidades primitivas não eram detentoras dos textos, como hoje os conhecemos; o que se tinha como ensinamento de Jesus era baseado nas epístolas de Paulo, que foram escritas antes dos evangelhos.
Nenhum dos Primeiros Pais da Igreja, inclusive Irineu, cita qualquer passagem que conhecemos. E mais... citam muitas passagens que somente são encontradas nos evangelhos apócrifos, rejeitados pelos canônicos. Isso nos leva a conclusão de que os textos em que os comentaristas primitivos se apoiaram não são os quatro evangelhos canônicos, utilizados hoje pelas igrejas cristãs. Eles vieram depois, num processo contínuo, em que os ortodoxos foram construindo a visão de Deus, Cristo e Igreja.
No sentido de desvendar o que de fato Jesus teria transmitido, comparando-se com o que hoje temos, ficamos a imaginar quais seriam seus ensinamentos em sua pregação oral? O que existe de verdade, o que existe de fantasia, e o que sobrou, na realidade, da essência de seus ensinamentos? Para buscarmos a pureza da personalidade e os ensinamentos de Jesus, só o retorno aos textos evangélicos na essência primitiva. Mas como conseguir esta façanha? Só mesmo com raras descobertas de textos enterrados em alguma caverna.
Quando analisamos “os ditos” do evangelho Gnóstico de Tomé – encontrado em 1945 – deparamos com pensamentos, às vezes diametralmente opostos daquilo que temos hoje. Dentr os inúmeros livros considerados apócrifos e que foram banidos pela Igreja, os estudiosos sustentam que o mais próximo dos verdadeiros ensinamentos de Jesus e da Igreja primitiva é esse evangelho de Tomé. Acreditam os pesquisadores que as versões dos ditados de Jesus nele encontrados, seriam, em geral, versões mais originais do que a dos evangelhos canônicos, que teriam sofrido modificações e editorações ao longo dos séculos.
Quando se refere aos documentos cristãos, é bem verdade que nenhum dos livros que foram incluídos no Novo Testamento, ou mesmo, qualquer livro cristão da Antiguidade têm os seus originais. Os pesquisadores trabalham com cópias dos originais, ou para ser mais exato, são cópias feitas de cópias dos originais. A grande maioria dessas cópias, que chegaram até nós, está a centenas de anos dos originais.
O cristianismo dos primeiros tempos não se constituiu num único bloco ortodoxo e monolítico, como muitos pensam, várias correntes do pensamento de Jesus surgiram em antagonismo, pois, conforme já notamos, em incalculável número, os textos circulavam nos tempos iniciais da “formatação” do cristianismo, com anotações díspares sobre a vida e ensinamentos de jesus, cada qual seguindo determinado líder religioso. Daí, o porquê do surgimento dos vários evangelhos, segundo narram os pesquisadores, chegando a mais de 70.
É preciso, portanto, cautela sobre o que herdamos e que chegou até nós como palavras dele. Reafirmamos: o que temos retratado nos evangelhos canônicos foi fruto de construção teológica, ao longo dos tempos, com o objetivo de formatar Igreja com os líderes eclesiásticos e agregar, numa única estrutura harmoniosa, os grupos cristãos, Constantino incumbiu, à sua custa, os lideres de igrejas de todo o império de se reunirem em Nicéia, na Ásia Menor, para elaborarem uma fórmula-padrão de fé cristã. Dessa reunião e suas consequências, nas décadas tumultuadas que se seguiram, surgiu o Credo de Nicéia, que iria esclarecer o redigir o cânone da verdade, juntamente com o que chamamos de cânone: a relação de 27 textos que comporiam o Novo Testamento e que ajudariam a estabelecer o que Irineu tinha visualizado – uma reunião mundial, numa igreja “católica e apostólica”, de cristãos “ortodoxos”. Uma coisa importante a destacar é que o Imperador estava interessado na unificação do Estado, e para isso, ele queria que a religião cristã fornecesse a base ideológica ao império. Assim, a religião passou para controle firme do imperador.
Hoje, sabe-se que muitos dogmas, ritos, sacramentos e estruturas administrativas foram adicionados aos evangelhos para dar sustentação às decisões dos diversos Concílios: Doutrina da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo -, nascimento virginal, ressurreição da carne, nomeação de Pedro como sucessor e encarregado de fundar a Igreja, salvação pela Igreja, céu e inferno, milagres, demônio, juízo final, divindade de Jesus, perdão dos pecados, as penas eternas, entre tantas outras ideias inconcebíveis pela lógica. Tais inserções mostram-nos, sobejamente, a descaracterização do cristianismo dos primeiros tempos e sua divulgação à população como se fossem palavras de Jesus. Não aceitamos, obviamente, este “produto” que se constituiu numa “construção”, que mais serviu aos interesses administrativos e políticos, do que, propriamente, atender aos princípios iniciais da pureza dos ensinamentos de Jesus, que foram como dissemos, adicionados, cortados, com a tesoura dos interesses do domínio do poder temporal.
Sou Deísta

Fontes:
The Orthodox Corruption of Scripture, Barte D. Ehrman, Oxford University Press, New York, 1993.
The Mythmaker Paul and the Invention of Christianity, Hyam Maccoby,Weidenfeld and Nicolson, London, 1986.The Goddess in the Gospels, Margaret Starbird, Bear & Company, Rochester, 1998.
The Last Gospel: the book of Q & Christian Origins, Burton L. Mack, Id Press, New York, 1993.
The Last Gospel, Barte D. Ehrman, Oxford University Press, New York, 2008.