domingo, 14 de outubro de 2012

Em busca dos antigos manuscritos cristãos – Parte 2

Ícone do Jesus Gnóstico

Nos séculos II e III, havia muitas versões diferentes da história e dos ensinos de Jesus. Pelo ano 325 d.C., representantes dos vários grupos diferentes do Cristianismo reuniram cada um com suas escritas. As disputas não só eram sobre a divindade de Jesus, mas também sobre qual destas escritas eram autênticas.
Naquela época não havia nenhum “cânon” do Novo Testamento. O cânon que possuímos hoje é um desenvolvimento da Igreja Católica que colecionou, descartou, alterou e até mesmo inventou muito do que lemos hoje no Novo Testamento, com o objetivo de atender aos interesses da Igreja e que muitos acreditam serem inspiradas.
Os debates teológicos referente à cristologia dos séculos II e III provocaram intensa rivalidade entre os vários grupos de cristãos. Antes do IV século, um destes grupos o que se aliou ao Império Romano (Igreja Católica Romana), tinha derrotado a oposição, denominando a si mesmo detentora da “ortodoxia” e marcando a ferro todas as crenças rivais como “heresias” e todos os outros grupos de “hereges”.
Assim como nos grandes conflitos políticos e culturais, nas batalhas pela supremacia religiosa os vencedores não publicam as verdadeiras visões de seus oponentes. Os vencedores não só escreve a história eles as distorcem. Assim, no Cristianismo primitivo, a maioria dos escritos das partes perdedoras nas disputas pela dominação foi destruída, esquecida ou simplesmente não foi reproduzida para a posteridade – perdida de uma forma ou de outra.

Manuscrito Nag Hammadi
Isto simplesmente significa que Roma ganha porque destruíram toda a evidência contrária as crenças religiosas da grande e poderosa Igreja nascente. Se você destrói todas as escritas das posições teológicas adversárias e queimam todas as bibliotecas você ganha através da falta de comparação. Duas gerações após as pessoas já não se lembrará da verdade e aceita a mentira como “ortodoxia”. Isto foi exatamente o que aconteceu.
É claro que o pouco que foi encontrado é espetacular. Descobertas começaram a ser feitas de modo significativo já no século XVII, intensificando através dos tempos, em diligentes buscas na Grécia, no Egito e em outros lugares, e à medida que expedições arqueológicas desenterravam tesouros inesperados e beduínos inadvertidamente tropeavam em achados cujo valor jamais sonhara.
Em 1945, um beduíno encontrou um jarro de cerâmica numa escavação próxima a aldeia de Nag Hammadi no Alto Egito. No jarro havia vários livros escritos em idioma copta antigo. Algumas folhas amareladas foram usadas para alimentar o fogão a lenha de sua casa. As restantes caíram nas mãos de um religioso local, circularam no mercado de antiguidades e foram resgatadas por um funcionário do governo egípcio. Mais tarde, descobriu-se que a “lenha” era um tesouro de valor incalculável: a coleção de Nag Hammadi é composta de 13 livros com 1600 anos e histórias que a Igreja tentou abafar durante todo esse tempo. Mas não conseguiu. Depois de sobreviver ao tempo e à censura religiosa, o achado tornou-se o maior e mais importante acervo de evangelhos apócrifos*, literatura que tem ajudado a elucidar vários mistérios sobre as origens do Cristianismo.
A maioria dos escritos de Nag Hammadi foi produzida entre os séculos I e III e seus autores faziam parte das primeiras comunidades cristãs. Nesse acervo, é possível conhecer livros que ficaram de fora do Novo Testamento, como evangelhos de Tomé e Tiago. O interessante desses relatos é que destoam bastante do que aparece no Novo Testamento. Neles, Jesus tem um lado humano, Madalena é uma grande líder, Jesus não fala sobre pecado, a necessidade de arrependimento e morte expiatória... Diferenças polêmicas que deixam claro por que os apócrifos sempre foram uma pedra no sapato da Igreja. Eles representavam outro cristianismo, não oficial, marginalizado. Eles têm grande valor histórico e religioso porque mostram novas interpretações sobre a figura de Jesus na origem do Cristianismo.
A hipocrisia religiosa do IV século chega até os dias de hoje quando, ainda, o Vaticano, mantendo sua tradição de enganar as pessoas, tenta com todas as forças evitar que esses manuscritos sejam divulgados. E por quê? Acontece que os manuscritos apontam certas discrepâncias e invencionices históricas, confirmando que o Novo Testamento foi manipulado para satisfazer os interesses da Igreja. O desejo da Igreja moderna é de suprimir esses documentos, antes que eles abalem o frágil alicerce do Cristianismo.
Os antigos manuscritos cristãos revelam que o Novo Testamento não nasceu pronto e acabado e que os textos que servem de base para a atual doutrina cristã passaram por um complicado processo de “edição”. Também deixam claro que, ao contrário do que se imaginava, o Cristianismo praticado hoje não era o único nos primeiros séculos. Existiam vários Cristianismos, cada um com sua própria interpretação da vida de Jesus e seus ensinamentos. Quem lê os escritos deixados por esses grupos pode conhecer outros pontos de vista sobre uma história contada há mais de 2000 anos.
O importante é que estes textos não estão nas mãos da Igreja, portanto, não correm o risco de serem corrompido como foi o Novo Testamento.

*O termo “apócrifo” significa “diferente, “não reconhecido” e “estranho”. Mas não se trata dum significado rigoroso, pois a palavra grega apocryphos quer dizer “escondido” e aplica-se aos livros que se ocultavam do público, para serem consultados apenas por uma classe privilegiada. Nada de ultrajante encerra o termo, já que os livros, pelo contrário, dispunham de certo valor, nem por todos compreendidos.

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sábado, 13 de outubro de 2012

Cinema brasileiro: “Boca” traça biografia de famoso bandido paulista dos anos 1960


Daniel de Oliveira como Hiroito
Cinebiografia de um dos mais famosos criminosos da história de São Paulo, Hiroito de Moraes Joanides (1936-1992), "Boca", de Flávio Frederico, não deixa igualmente de ser um cuidadoso retrato de um ambiente e de uma época.
 Diretor Flávio Frederico
Contando com a interpretação empenhada de Daniel de Oliveira como Hiroito, o filme, com roteiro do próprio Frederico e de Mariana Pamplona, partindo de uma autobiografia escrita pelo personagem, traça o perfil de um homem violento e contraditório.
Filmado em boa parte no centro histórico de Santos, amparando-se na bela fotografia de Adrian Teijido, "Boca" define os limites do mundo claustrofóbico de Hiroito, desfrutando de luxo em sua casa, ao lado da mulher, a ex-prostituta Alaíde (Hermila Guedes), mas também vivendo boa parte do tempo como fugitivo.
Diretor de fotografia Adrian Teijido
Falecido no último dia 14 de junho, o cineasta Carlos Reichenbach, figural central do filme, é homenageado na programação, que exibe filmes de sua autoria.
Cineasta Carlos Reichenbach

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Em busca dos antigos manuscritos cristãos - Parte 1



Antigo manuscrito cristão encontrado em 1945 na cidade de Nag Hammadi, Egito
Você já imaginou um fenômeno religioso mais diversificado do que o Cristianismo moderno? Há igreja Católica Romana, Católica Ortodoxa, Presbiteriana, Metodista, Batista, Adventista, Assembléia de Deus e uma multidão de denominações Neo pentecostais.
Mais diversificado do que este fenômeno do Cristianismo moderno é o Cristianismo antigo.
Imagine as escolhas com que os cristãos se deparavam nos séculos II e III. O que é melhor? A igreja Ebionita ou Marcionita? Gnóstica ou Proto-ortodoxa? Uma igreja que acredita num Deus Uno, ou numa Trindade? Uma igreja que aceita os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, ou os Evangelhos de Tomé, Filipe e Maria?
Esses dois séculos foram praticamente ricos em diversidade teológica entre os primeiros cristãos. De fato, a diversidade teológica era tão difundida que grupos que se auto-qualificavam de cristãos aderiram a crença e as práticas que muitos cristãos hoje classificariam como tudo, menos cristãos.
Durante os séculos II e III, não havia acordo quanto a um cânon – nem acordo quanto a uma teologia. Em vez disso, havia um amplo leque de diversidade. Diversos grupos afirmando diversas teologias baseadas em diversos textos escritos, todos reivindicando terem sido escritos pelos primeiros seguidores de Jesus.
Mas praticamente todas as formas do cristianismo moderno querem, aceite ou não, originam-se de uma única fonte de Cristianismo que emergiu como vitoriosa dos conflitos dos séculos II e III. Esse grupo foi o que se aliou ao Império Romano. Essa forma única decidiu qual era a perspectiva “correta”; e determinou que formas de Cristianismo fossem marginalizadas, postas de lado, destruídas. Também decidiu quais livros canonizar no Novo Testamento e quais deixarem de lado como “hereges”.
Em 325 d.C., o Imperador romano Constantino convocou o Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a igreja de uma doutrina padrão, pois as divisões dentro da nova igreja que nascia, ameaçava sua autoridade e domínio. Era necessário, portanto, um concílio para dar nova estrutura aos seus poderes.
Foi no Concílio de Nicéia que deram os passos decisivos no sentido de criar uma igreja unificada, engendrada de forma a servir ao Imperador como forma de domínio político e social.
O Concílio de Nicéia foi instituído com o fim de fabricar a doutrina de uma nova igreja concebida para o fácil controle do povo.
Em Nicéia que foram instituídas as primeiras “ferramentas” facilitadoras da criação de um Deus, bem como na escolha dos Evangelhos que, a partir deste Concílio, passaram a serem os únicos textos considerados sagrados no Cristianismo.
Em 331 d.C. seis anos depois de Nicéia, Constantino ordenou que uma “Bíblia” ecumênica fosse escrita.
Constantino queria uma Bíblia que seria aceitável a pagãos como também a cristãos, e Eusébio (seguidor de Orígenes de Alexandria) foi nomeado para dirigir esta tarefa.
Esta Bíblia foi escrita para concordar com os objetivos da nova igreja que nascia Católica e Romana e que se autodenominava detentora da “ortodoxia”.
Foi neste período que Constantino ordenou a destruição de todos os outros manuscritos cristãos antigos, proibiu, também, a leitura e a posse de qualquer literatura cristã, que não fosse umas das 50 Bíblias e a pena a desobediência deveria ser a morte.
Os Codex Siaiticus e Vaticanus são exemplo sobreviventes da 50 Bíblias de Constantino.
Você sabia que a sua Bíblia é uma cópia das 50 Bíblias de Constantino?


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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Aparecida: A verdadeira história

Porto de Itaguaçu, Aparecida início do século XX 

As lendas sobre a “Serra das Esmeraldas” povoou o imaginário dos colonizadores desde o primeiro momento.
Em 1674, partiu Fernão Dias, o mais famoso Bandeirante, em busca de tal serra.
Após a saga de Fernão Dias, na frustrada “Caça as Esmeraldas”, multiplica-se o número de Bandeiras. Logo a seguir, vários Bandeirantes paulistas descobrem novas jazidas de ouro em Minas do Ouro (Minas Gerais), Transformando o Brasil no maior centro mundial de produção de ouro do século XVIII.
Com o fim da “Caça as Esmeraldas” (1713) dão lugar, então, ao importante “Ciclo do Ouro”.
Naquela época em que o Brasil era colônia de Portugal, não se dividia ele em Províncias ou Estado como hoje. O Brasil, então, era dividido em Capitanias, dirigido cada qual por um Governador nomeado pela Coroa de Portugal.
A produção das minas crescia, ao passo que os tributos enviados à Corte permaneciam estagnados. Em Portugal cobrava-se uma explicação; esta residia no contrabando, que enorme prejuízo causava à fazenda real.
No dia 4 de setembro de 1717, num ambiente de revolta pelo desvio do ouro, Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, foi indicado pela Coroa de Portugal como terceiro Governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Competia ao governador recém-empossado restabelecer a ordem, por fim ao contrabando de ouro e a moralização do clero que ali vivia dissolutamente, praticando desde delitos e desrespeito ao celibato, como também se envolvia no trafico do ouro para o Vaticano.
Ciente da gravidade da situação em Minas, o Conde de Assumar decide intervir pessoalmente. No dia 26 de setembro, mandou um emissário a Minas do Ouro, para avisar a todos os administradores de sua próxima visita. No dia seguinte, saiu de São Paulo e rumou em direção ao Vale do Paraíba parando primeiro em Mogi das Cruzes, depois em Jacareí, Caçapava, Taubaté e Pindamonhangaba, chegando à Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá no dia 17 de outubro e lá permaneceu até o dia 30, esperando por sua bagagem que havia deixado em Parati para ser enviada a Guaratinguetá em tropa de animais, aonde só chegou no dia 28.
Por sua privilegiada localização, a Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, situada na passagem para Minas Gerais, funcionava como entreposto, o que gerou o estabelecimento de uma elite fidalga na região.
Na véspera da chegada do Governador a Guaratinguetá, a Câmara Municipal contratou diversos pescadores para trazerem uma boa quantidade de peixes, que seriam preparados para o banquete, que foi elaborado com todo o requinte, objetivando agradar o ilustre Governador e sua comitiva. Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o vigário destacava-se nas cidades como autoridade mais importante.
Em Guaratinguetá, na ocasião, era vigário, o jovem padre José Alves Vilela. Em 7 de setembro de 1514, através da Bula Dum Fidei Constantiam, o papa Leão X concedeu a D. Manuel I e a seus sucessores o padroado de todas as igrejas fundadas e a fundar no ultramar. Ou seja, a igreja delegava ao monarca de Portugal a organização da igreja católica em seus domínios. O Rei mandava construir igrejas, nomeava os bispos, sendo estes aprovados pelo papa. Portanto, a nomeação dos bispos dependia inteiramente da indicação feita pelo Rei.
O padre Vilela desejava ser bispo. Percebeu na passagem do Conde de Assumar por sua paróquia, a grande oportunidade, em conquistar a simpatia do Governador, e quem sabe, ser apresentado como candidato ao bispado.
A par das homenagens cívicas ao Governador promovidas pela Câmara, o padre Vilela, como autoridade eclesiástica, programou festas religiosas de grande pompa para impressionar o homenageado.  Desde sempre o clero gostou de se valer de seu ritualismo litúrgico para engodar as autoridades civis com o objetivo de se manter prestigiado. O sonho do padre Vilela era ser bispo, e ele tinha que conquistar o Governador para alcançar esta posição. Tinha que arquitetar um plano infalível. Mas não tinha muito tempo.
Padre Vilela, esperava encontrar alguma coisa notável. Vilela conhecia e se relacionava bem com um dos pescadores que fora contratado para a pesca. Felipe Pedroso era seu nome. Em segredo, Vilela contando com a discrição e as espertezas de Felipe Pedroso arquitetaram um plano. Pronto! Estava montado o palco para o grande espetáculo.
O sol ainda não despontará no morro do Tabuleiro quando os pescadores lançaram a rede na curva do rio. Sabiam os pescadores que os peixes permanecem nas águas calmas e não é possível pesca na turbulência da curva do rio. Mas, ingênuos, e submissos, obedeceram. Na convicção de nada apanhar, surpresos, porém, ficaram quando Felipe Pedroso retira das águas uma imagem, entalhada em terracota, nos moldes de Murilo, que o clero se utiliza como símbolo da “Imaculada Conceição” de Maria. Imediatamente Felipe Pedroso coloca a imagem dentro do embornal e prossegue com a pesca. Obtida a quantidade de pescado exigida, foram entregar o pescado. Felipe Pedroso e seus colegas pescadores Domingos Martins Garcia e João Alves, jubilosos na sua crença ingênua, mostraram ao padre, misturado na comitiva do Governador, a imagem. Comovido o vigário pelo sucesso do seu empreendimento, em armar o cenário da peca “milagrosa”, despejava suas expressões religiosas e deslambidas acentuando o “fator milagroso” daquele achado.
Todo o povo da região, estava presente na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, para receber o Governador e, ludibriados em suas crenças, exultavam com o “milagre” sucedido.
Para dar mais credibilidade ao seu estratagema religioso, o vigário entrega a imagem a Felipe Pedroso, residente no sopé do morro dos Coqueiros. Partindo de Guaratinguetá Assumar segue viagem, os fiéis, em procissão, acompanha o felizardo pescador, que, com ar de piedade, colocou, sob a emoção dos circunstantes, a imagem aparecida entre os “santos” do seu tosco oratório.
Inglórios os esforços do vigário Vilela junto ao Governador! Tão atarefado de problemas em sua curta estadia no Brasil à frente da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, não teve sequer lembranças de sugerir ao Rei o nome do padre José Alves Vilela pároco da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá como candidato a bispo de alguma diocese do reino.  Sem perder as esperanças o padre Vilela decidiu incentivar a devoção da imagem aparecida, promovendo atos religiosos. Quem sabe se seu nome assim ligado a imagem aparecida “milagrosamente”, o encheria de fama e repercutiria nos ouvidos do religioso Rei Dom João V, que ouvia missas todos os dias.
Bem, daqui pra frente vocês já sabem a história!