terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Descobertas Arqueológicas Reescreve o Neolíti

O arqueólogo Vere Gordon Childe, influenciou a nossa geração pela teoria da Revolução Neolítica, que explicava que a civilização, como a conhecemos, havia sido consequência da agricultura.  De bandos de nômades havíamos passado a uma vida mais sedentária, reunida à volta de vilarejos e cidades, cultivando trigo, cevada e domesticando animais. Foi só na década de 1990, com as primeiras descobertas arqueológicas em Göbekli Tepe, na Turquia, que evidências de outra possibilidade começaram a surgir.   E vieram tão numerosas e de tantas formas diferentes, que a necessidade de revermos de maneira drástica o que imaginávamos ser o desenvolvimento dos seres humanos no Neolítico se fez necessário.


Com as descobertas de Göbekli Tepe:  a organização religiosa dos seres humanos talvez não tenha vindo como consequência da Revolução Neolítica, mas ao contrário: a necessidade de uma religião organizada pode ter dado origem à agricultura.
É uma reviravolta inesperada e fascinante.
Até evidência em contrário, o aparecimento da religião organizada entre os homens aconteceu na Turquia, em Göbekli Tepe, mais ou menos há 12.000 anos.  As fundações desse templo religioso no topo de uma montanha, a 15 km de Şanlıurfa, no Sudeste da Turquia, são incontestáveis.  Haveria outros templos mais antigos?  Não sabemos.  Por ora, a civilização começou aí.  Göbekli Tepe é um templo extraordinário.

Göbekli Tepe é um complexo arqueológico muito complexo. Suas pedras gigantescas são cortadas com precisão e apresentam baixos-relevos de animais variados:  cobras, raposas, escorpiões, javalis e bandos de gazelas.
Como então Göbekli Tepe se encaixa na chamada Revolução do Neolítico, proposta por Childe?  Não se encaixa.   Aquela época importante quando a agricultura tomou conta da nossa vida no planeta, aqueles milênios em que as culturas nômades dedicadas à caça e pesca passou a plantar e cultivar os animais, não parece se refletir no primeiro grande templo da humanidade.  E isso é só uma das partes desses quebra-cabeças.
Mas o que foi achado em Göbekli Tepe para nos fazer questionar o que parecia certo e lógico?  Localizado na maior colina em toda área, por quilômetros e quilômetros, esse templo consiste de 20 câmaras no subsolo que têm um grande número de pedras de calcário em forma de T.  Muitas dessas pedras e pilares foram decoradas com o desenho de animais do campo, em relevo, cinzelados.  As pilastras estão organizadas em círculos de pedras, — quatro foram escavados até agora.  Cada círculo tem não mais do que 30 m de diâmetro.  As pedras que os formam são de aproximadamente 6 metros de altura, pesando entre 12 a 18 toneladas.

No entanto, não há vestígios de habitação permanente de seres humanos no local.  Nem mesmo rastros deixados por acampamentos de longa duração, já que nessa época não existiam ainda vilarejos, nem cidades, nem aglomerados humanos de maior complexidade.  Os seres humanos eram nômades, sobrevivendo da caça e pesca e de colheita de frutos da natureza.  Então como construir um monumento desse porte, se era preciso um grande número de pessoas, organizadas, que exercessem diferentes tarefas?    
O que causaria esse grande esforço para se construir um templo, num lugar de tão difícil acesso?  O que havia levado esses povos a construir algo tão ambicioso?  E mais estranho ainda:  a enterrá-lo propositadamente depois de algum tempo e abrir outro  templo circular um pouco mais adiante, e ao fim de um determinado tempo, enterrá-lo e assim por diante? São respostas que os especialistas ainda não têm.

Fonte
The National Geographic Magazine.

Peregrinacultural's Weblog por Ana Dias.