sábado, 7 de julho de 2012

Aparecida: Bonfim o retrato do descaso

O que você verá nesta postagem é o retrato do descaso, do desrespeito e do abandono de um patrimônio histórico, a igreja do Bonfim em Aparecida - SP.
Construída em 1880, pelo rico fazendeiro português José Pereira Barbosa. A igreja dedicada ao Senhor Bom Jesus, ergue-se imponente, mas solitária na zona rural de Aparecida, num lugar privilegiado pela natureza, no sopé da majestosa Serra Quebra Cangalha.
Segundo conta a tradição, que em uma viagem a Europa, Pereira Barbosa fez uma parada em Salvador, Bahia, onde visitou a igreja do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Deslumbrado com a imponência da igreja resolveu construir uma igual em sua propriedade.
O fazendeiro gastou mais de 50 Contos de Réis na construção (uma fortuna). Encomendou ao Mestre José Romão a execução do altar-mor, todo em madeira entalhada a canivete. A pintura da ascensão de Jesus Cristo, no frontal interno da igreja, é do pintor José Pinto e retrata, em primeiro plano, José Pereira Barbosa no canto inferior esquerdo ao lado dos personagens bíblicos. No altar lateral direito encontram-se os restos mortais do fazendeiro José Pereira Barbosa.

Altar-mor em madeira entalhada a canivete pelo Mestre José Romão
Pintura da Ascensão de Jesus Cristo, no frontal interno da igreja, onde vemos em primeiro plano, José Pereira Barbosa
Altar lateral direito onde jaz os restos mortais do fazendeiro
Todos os paramentos litúrgicos foram trazidos de Portugal, para que em 1890 a igreja fosse consagrada e inaugurada com grande festa.
E foi em torno dessa igreja que surgiu o povoado do Bonfim no final do século XIX. Em 1906, já havia no local 28 residências. O povoado contava com lojas, padaria, armazém, farmácia e escola. Havia também barbeiro, alfaiate, ferreiro e outros profissionais de serviços. Dizem que havia dois cemitérios um dos quais atrás da igreja.
Mas a prosperidade do povoado do Bonfim estava com seus dias contados. Com o fim do ciclo do café na região, por volta de 1928 o povoado entrou em decadência. E hoje o que restou é um triste cenário de abandono e de esquecimento.
Apesar das festas anuais e de missas mensais, fico estarrecido diante da enormidade do descaso do que restou desse povoado, a igreja do Bonfim.
O que era para ser cuidado e preservado está praticamente em ruínas. Ali está exposto o descaso irresponsáveis de várias instâncias: a arquidiocese de Aparecida, a paróquia de Sant'Ana em Roseira, a Prefeitura do município de Aparecida, que faz vista grossa e a comunidade passiva que não cobra.
Veja o retrato deste descaso:

Pilar em madeira do altar-mor que está sendo consumido pelos cupins
Os cupins já devoraram grande parte do altar-mor
Parte da pintura do frontal interno da igreja está sendo destruído pela infiltração
A infiltração já danificou grande parte do telhado e o forro da igreja
As rachadoras na coluna de canto está comprometendo toda a estrutura da igreja
Segundo o professor Luiz de Moura, Manoel Alves Nunes (carinhosamente conhecido por Manezinho), quando prefeito municipal de Aparecida (gestão 1969-1972) planejou a abertura de uma estrada panorâmica sobre o Morro do Tabuleiro, ligando Aparecida ao Bonfim.
Naquela época quando ninguém falava em ecologia, Manezinho já cogitava em transformar toda a área no entorno da igreja do Bonfim num parque - o parque das cachoeiras. Tudo isso ficou nos planos e nos sonhos.

Vista frontal da igreja do Bonfim
Uma visão do entorno da igreja
Visão panorâmica vista da torre da igreja (foto By: Gilberto Borges)
Muito da história e identidade do povoado do Bonfim é desconhecida. Agora o que sobrou, a igreja do Bonfim está para ser apagada de forma deliberada pelo descaso.
A proposta é de "recuperação urgente" da igreja e a "revitalização" do entorno que visa resgatar a identidade histórica, cultural, social, e o meio ambiente natural visando o grande potencial turístico da região.
Vale ressaltar que preservar significa salvaguardar a memória e os valores que, originalmente, levaram a se considerar aquele personagem, aquele lugar, aquele objeto, aqueles prédios como patrimônio da coletividade.
Faço das palavras do professor Luiz de Moura as minhas palavras, que é ver aquela região recuperada e transformada num parque ecológico municipal ou estadual. Nossa zona rural precisa ser urgentemente redescoberta, valorizada e usada.











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