O que você verá nesta postagem é o retrato do descaso, do desrespeito e do abandono de um patrimônio histórico, a igreja do Bonfim em Aparecida - SP.
Construída em 1880, pelo rico fazendeiro português José Pereira Barbosa. A igreja dedicada ao Senhor Bom Jesus, ergue-se imponente, mas solitária na zona rural de Aparecida, num lugar privilegiado pela natureza, no sopé da majestosa Serra Quebra Cangalha.
Segundo conta a tradição, que em uma viagem a Europa, Pereira Barbosa fez uma parada em Salvador, Bahia, onde visitou a igreja do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Deslumbrado com a imponência da igreja resolveu construir uma igual em sua propriedade.
O fazendeiro gastou mais de 50 Contos de Réis na construção (uma fortuna). Encomendou ao Mestre José Romão a execução do altar-mor, todo em madeira entalhada a canivete. A pintura da ascensão de Jesus Cristo, no frontal interno da igreja, é do pintor José Pinto e retrata, em primeiro plano, José Pereira Barbosa no canto inferior esquerdo ao lado dos personagens bíblicos. No altar lateral direito encontram-se os restos mortais do fazendeiro José Pereira Barbosa.
Altar-mor em madeira entalhada a canivete pelo Mestre José Romão |
Pintura da Ascensão de Jesus Cristo, no frontal interno da igreja, onde vemos em primeiro plano, José Pereira Barbosa |
Altar lateral direito onde jaz os restos mortais do fazendeiro |
Todos os paramentos litúrgicos foram trazidos de Portugal, para que em 1890 a igreja fosse consagrada e inaugurada com grande festa.
E foi em torno dessa igreja que surgiu o povoado do Bonfim no final do século XIX. Em 1906, já havia no local 28 residências. O povoado contava com lojas, padaria, armazém, farmácia e escola. Havia também barbeiro, alfaiate, ferreiro e outros profissionais de serviços. Dizem que havia dois cemitérios um dos quais atrás da igreja.
Mas a prosperidade do povoado do Bonfim estava com seus dias contados. Com o fim do ciclo do café na região, por volta de 1928 o povoado entrou em decadência. E hoje o que restou é um triste cenário de abandono e de esquecimento.
Apesar das festas anuais e de missas mensais, fico estarrecido diante da enormidade do descaso do que restou desse povoado, a igreja do Bonfim.
O que era para ser cuidado e preservado está praticamente em ruínas. Ali está exposto o descaso irresponsáveis de várias instâncias: a arquidiocese de Aparecida, a paróquia de Sant'Ana em Roseira, a Prefeitura do município de Aparecida, que faz vista grossa e a comunidade passiva que não cobra.
Veja o retrato deste descaso:
Pilar em madeira do altar-mor que está sendo consumido pelos cupins |
Os cupins já devoraram grande parte do altar-mor |
Parte da pintura do frontal interno da igreja está sendo destruído pela infiltração |
A infiltração já danificou grande parte do telhado e o forro da igreja |
As rachadoras na coluna de canto está comprometendo toda a estrutura da igreja |
Segundo o professor Luiz de Moura, Manoel Alves Nunes (carinhosamente conhecido por Manezinho), quando prefeito municipal de Aparecida (gestão 1969-1972) planejou a abertura de uma estrada panorâmica sobre o Morro do Tabuleiro, ligando Aparecida ao Bonfim.
Naquela época quando ninguém falava em ecologia, Manezinho já cogitava em transformar toda a área no entorno da igreja do Bonfim num parque - o parque das cachoeiras. Tudo isso ficou nos planos e nos sonhos.
Vista frontal da igreja do Bonfim |
Uma visão do entorno da igreja |
Visão panorâmica vista da torre da igreja (foto By: Gilberto Borges) |
Muito da história e identidade do povoado do Bonfim é desconhecida. Agora o que sobrou, a igreja do Bonfim está para ser apagada de forma deliberada pelo descaso.
A proposta é de "recuperação urgente" da igreja e a "revitalização" do entorno que visa resgatar a identidade histórica, cultural, social, e o meio ambiente natural visando o grande potencial turístico da região.
Vale ressaltar que preservar significa salvaguardar a memória e os valores que, originalmente, levaram a se considerar aquele personagem, aquele lugar, aquele objeto, aqueles prédios como patrimônio da coletividade.
Faço das palavras do professor Luiz de Moura as minhas palavras, que é ver aquela região recuperada e transformada num parque ecológico municipal ou estadual. Nossa zona rural precisa ser urgentemente redescoberta, valorizada e usada.
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