segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Aparecida: A verdadeira história

Porto de Itaguaçu, Aparecida início do século XX 

As lendas sobre a “Serra das Esmeraldas” povoou o imaginário dos colonizadores desde o primeiro momento.
Em 1674, partiu Fernão Dias, o mais famoso Bandeirante, em busca de tal serra.
Após a saga de Fernão Dias, na frustrada “Caça as Esmeraldas”, multiplica-se o número de Bandeiras. Logo a seguir, vários Bandeirantes paulistas descobrem novas jazidas de ouro em Minas do Ouro (Minas Gerais), Transformando o Brasil no maior centro mundial de produção de ouro do século XVIII.
Com o fim da “Caça as Esmeraldas” (1713) dão lugar, então, ao importante “Ciclo do Ouro”.
Naquela época em que o Brasil era colônia de Portugal, não se dividia ele em Províncias ou Estado como hoje. O Brasil, então, era dividido em Capitanias, dirigido cada qual por um Governador nomeado pela Coroa de Portugal.
A produção das minas crescia, ao passo que os tributos enviados à Corte permaneciam estagnados. Em Portugal cobrava-se uma explicação; esta residia no contrabando, que enorme prejuízo causava à fazenda real.
No dia 4 de setembro de 1717, num ambiente de revolta pelo desvio do ouro, Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, foi indicado pela Coroa de Portugal como terceiro Governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Competia ao governador recém-empossado restabelecer a ordem, por fim ao contrabando de ouro e a moralização do clero que ali vivia dissolutamente, praticando desde delitos e desrespeito ao celibato, como também se envolvia no trafico do ouro para o Vaticano.
Ciente da gravidade da situação em Minas, o Conde de Assumar decide intervir pessoalmente. No dia 26 de setembro, mandou um emissário a Minas do Ouro, para avisar a todos os administradores de sua próxima visita. No dia seguinte, saiu de São Paulo e rumou em direção ao Vale do Paraíba parando primeiro em Mogi das Cruzes, depois em Jacareí, Caçapava, Taubaté e Pindamonhangaba, chegando à Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá no dia 17 de outubro e lá permaneceu até o dia 30, esperando por sua bagagem que havia deixado em Parati para ser enviada a Guaratinguetá em tropa de animais, aonde só chegou no dia 28.
Por sua privilegiada localização, a Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, situada na passagem para Minas Gerais, funcionava como entreposto, o que gerou o estabelecimento de uma elite fidalga na região.
Na véspera da chegada do Governador a Guaratinguetá, a Câmara Municipal contratou diversos pescadores para trazerem uma boa quantidade de peixes, que seriam preparados para o banquete, que foi elaborado com todo o requinte, objetivando agradar o ilustre Governador e sua comitiva. Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o vigário destacava-se nas cidades como autoridade mais importante.
Em Guaratinguetá, na ocasião, era vigário, o jovem padre José Alves Vilela. Em 7 de setembro de 1514, através da Bula Dum Fidei Constantiam, o papa Leão X concedeu a D. Manuel I e a seus sucessores o padroado de todas as igrejas fundadas e a fundar no ultramar. Ou seja, a igreja delegava ao monarca de Portugal a organização da igreja católica em seus domínios. O Rei mandava construir igrejas, nomeava os bispos, sendo estes aprovados pelo papa. Portanto, a nomeação dos bispos dependia inteiramente da indicação feita pelo Rei.
O padre Vilela desejava ser bispo. Percebeu na passagem do Conde de Assumar por sua paróquia, a grande oportunidade, em conquistar a simpatia do Governador, e quem sabe, ser apresentado como candidato ao bispado.
A par das homenagens cívicas ao Governador promovidas pela Câmara, o padre Vilela, como autoridade eclesiástica, programou festas religiosas de grande pompa para impressionar o homenageado.  Desde sempre o clero gostou de se valer de seu ritualismo litúrgico para engodar as autoridades civis com o objetivo de se manter prestigiado. O sonho do padre Vilela era ser bispo, e ele tinha que conquistar o Governador para alcançar esta posição. Tinha que arquitetar um plano infalível. Mas não tinha muito tempo.
Padre Vilela, esperava encontrar alguma coisa notável. Vilela conhecia e se relacionava bem com um dos pescadores que fora contratado para a pesca. Felipe Pedroso era seu nome. Em segredo, Vilela contando com a discrição e as espertezas de Felipe Pedroso arquitetaram um plano. Pronto! Estava montado o palco para o grande espetáculo.
O sol ainda não despontará no morro do Tabuleiro quando os pescadores lançaram a rede na curva do rio. Sabiam os pescadores que os peixes permanecem nas águas calmas e não é possível pesca na turbulência da curva do rio. Mas, ingênuos, e submissos, obedeceram. Na convicção de nada apanhar, surpresos, porém, ficaram quando Felipe Pedroso retira das águas uma imagem, entalhada em terracota, nos moldes de Murilo, que o clero se utiliza como símbolo da “Imaculada Conceição” de Maria. Imediatamente Felipe Pedroso coloca a imagem dentro do embornal e prossegue com a pesca. Obtida a quantidade de pescado exigida, foram entregar o pescado. Felipe Pedroso e seus colegas pescadores Domingos Martins Garcia e João Alves, jubilosos na sua crença ingênua, mostraram ao padre, misturado na comitiva do Governador, a imagem. Comovido o vigário pelo sucesso do seu empreendimento, em armar o cenário da peca “milagrosa”, despejava suas expressões religiosas e deslambidas acentuando o “fator milagroso” daquele achado.
Todo o povo da região, estava presente na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, para receber o Governador e, ludibriados em suas crenças, exultavam com o “milagre” sucedido.
Para dar mais credibilidade ao seu estratagema religioso, o vigário entrega a imagem a Felipe Pedroso, residente no sopé do morro dos Coqueiros. Partindo de Guaratinguetá Assumar segue viagem, os fiéis, em procissão, acompanha o felizardo pescador, que, com ar de piedade, colocou, sob a emoção dos circunstantes, a imagem aparecida entre os “santos” do seu tosco oratório.
Inglórios os esforços do vigário Vilela junto ao Governador! Tão atarefado de problemas em sua curta estadia no Brasil à frente da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, não teve sequer lembranças de sugerir ao Rei o nome do padre José Alves Vilela pároco da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá como candidato a bispo de alguma diocese do reino.  Sem perder as esperanças o padre Vilela decidiu incentivar a devoção da imagem aparecida, promovendo atos religiosos. Quem sabe se seu nome assim ligado a imagem aparecida “milagrosamente”, o encheria de fama e repercutiria nos ouvidos do religioso Rei Dom João V, que ouvia missas todos os dias.
Bem, daqui pra frente vocês já sabem a história!




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