quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Serra da Capivara Revela História do Homem nas Américas

Arqueóloga Niède Guidon
Com mais de 120 mil hectares de cânions, grutas, falésias e o rico bioma da caatinga, o Parque da Serra da Capivara e seu entorno abrigam 1.334 sítios arqueológicos (172 deles abertos a turistas), pinturas com 29 mil anos de história, paisagens que remontam ao período pré-cambriano (mais de 570 milhões de anos atrás) e um infindável cemitério de animais da megafauna: de seus terrenos são retiradas, periodicamente, ossadas de mastodontes, tigres-dente-de-sabre, preguiças gigantes (que tinham seis metros e até 700 quilos) e outras espécies extintas há milênios.
Pintura Rupestre

Museu e trilhas
Antes de entrar no parque, porém, é aconselhável que o forasteiro faça uma visita ao museu da Fundação do Homem Americano (Fundham), instituição da qual Niède é diretora e que preserva mais de 1 milhão de achados arqueológicos e paleontológicos da região. Com cerca de cem relíquias em exposição, o local é uma introdução perfeita para as andanças pela Serra da Capivara.
Lá estão, por exemplo, um crânio de quase 10 mil anos descoberto no Sítio dos Coqueiros, localizado dentro do parque. “É um crânio alongado, que pertenceu a um indivíduo que viveu nesta região”, conta Gisele Felice, arqueóloga da Fundham. “Ele é muito parecido com o crânio da Luzia [a mulher de 11 mil anos encontrada em Minas Gerais nos anos 1970] e é uma das principais atrações do acervo”.
O museu também preserva colares de 8.000 anos, ferramentas líticas de 9.000 anos e até fezes fossilizadas com quase quatro milênios. Também exibe urnas funerárias e explica como as populações que viveram na área enterravam seus mortos. 
Abastecido pelas informações encontradas no museu, o turista está pronto para suas incursões ao Parque Nacional. Os passeios devem ser feitos com um guia: os veículos saem da cidade de São Raimundo Nonato e, depois de 20 minutos, estão cruzando as trilhas semiáridas da Serra da Capivara, entre mandacarus, xiquexiques e juazeiros.
Novas teorias
Os resquícios de presença humana encontrados nesses lugares lançou uma nova possibilidade sobre a chegada do homem ao que hoje são as Américas. Uma das teorias mais aceitas diz que o homo sapiens entrou na região através do Estreito de Bering (entre os territórios atuais da Rússia e do Alasca) há cerca de 15 mil anos.
Entretanto, usando técnicas de datação pelo carbono 14 e por termoluminescência em suas investigações na Serra da Capivara, as equipes de Niède Guidon chegaram à conclusão de que a presença humana na área tem pelo menos 100 mil anos de história.
Nos sítios visitados pelos turistas foram descobertos restos de fogueiras, oficinas líticas, resquícios de aldeias, cerâmicas, discos polidos e machados lascados. São as pinturas, porém, que irão receber e encantar os visitantes. “Até hoje me impressiono com a qualidade dessas obras de arte”, diz o guia Giordano Macedo, olhando o paredão do Sítio do Meio. “Você pode enxergar movimento nas pinturas e aprender sobre diversos aspectos da vida dessas pessoas”.
Muitas das pinturas são narrativas: feitas principalmente com óxido de ferro, elas retratam figuras antropomórficas e zoomórficas em plena interação. Há duplas (e trios) fazendo sexo, homens conduzindo rituais, caçadores correndo atrás de animais, mulheres dançando e até um lindo casal dando um “selinho”.
O turista pode passar dias só explorando as obras de arte espalhadas pelo parque (o recomendável é que se reserve pelo menos quatro dias para percorrer a região, visto que os sítios estão a quilômetros de distância uns dos outros).
Mas, na Serra da Capivara, também vale a pena praticar um pouco de ecoturismo: os guias geralmente levam os turistas até locais que oferecem lindas visões da área, que esteve sob o mar em um passado distante, emergiu da água com o movimento das placas tectônicas e hoje exibe monumentos como a Pedra Furada (um dos principais cartões-postais da Serra da Capivara).
As caminhadas podem ser exaustivas, mas são altamente recompensadoras. Com o semiárido despovoado sob seus pés, o forasteiro se sente, mais do que nunca, como um explorador privilegiado de um mundo perdido.      
Fonte:
Marcel Vincenti, UOL
Fundham



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